Artigo: "Ei, psiu! Qual a maneira mais fácil de chegar lá?"

Conheço um amigo que é VP de uma multinacional respeitada. Entre as atividades que exerce podemos encontrar reuniões com o presidente e outros VPs, para discutirem os destinos da empresa. Há também muitas viagens internacionais para as outras bases da empresa no mundo em eventos e datas importantes. Certamente muitos sonhariam em ocupar esta posição. Vale notar: ele é engenheiro aeronáutico como todos nós. “Ah, mas então ele é uma dessas ovelhas desgarradas que não trabalha no meio aeronáutico.” Se engana quem pensa dessa forma. Ele trabalha em uma das maiores empresas aeronáuticas que conheço. Uma multinacional com bases e funcionários em várias partes do mundo. Este meu amigo é o responsável, entre outras coisas, pela imagem que os clientes mundiais têm da empresa e também por representar a empresa nos contatos com todos os meios de comunicação, além de orientar os outros executivos da empresa nessas situações (contato com a mídia). Sua Vice-Presidência é a de Comunicação Empresarial. Quando nos conhecemos há alguns anos atrás (muitos, diga-se de passagem...) eu jamais imaginaria que ele iria parar em uma área tão diversa da nossa origem de engenheiros. Até hoje é um dos engenheiros mais competentes que eu conheci. Participou como engenheiro de importantes projetos que a empresa teve no passado em mais de uma de suas bases e até ocupou o cargo de gerente de engenharia de toda a empresa antes de se tornar um VP. “Como ele chegou lá?” É uma longa história. A empresa onde ele trabalha foi vendida, abriu seu capital. Demitiu e contratou muita gente pelo caminho.

Muitas vezes a empresa (e o emprego de engenheiro ou de gerente) esteve por um fio. Mas há algo que é importante contar. Sua competência e integridade no exercício da função do engenheiro foram fatores básicos para seu sucesso. Mais tarde, em sua nova posição de VP, sua formação em engenharia aeronáutica e sua experiência anterior, tanto como engenheiro ou como gerente de engenharia, tornaram muito mais fácil para ele “traduzir” as idéias e produtos de sua empresa em uma linguagem que foi muito bem entendida e aceita pelo mercado. Nunca na história da empresa a divulgação dos produtos e a imagem da empresa estiveram tão sincronizadas com o mercado como na sua gestão.
Há um outro caso de um amigo que pensava em fazer um MBA e cogitou até pedir demissão da empresa para poder freqüentar o curso. Ele já havia atuado como engenheiro e era agora um ótimo gerente em sua área. Em todas essas posições sempre foi admirado como profissional e respeitado como pessoa. A empresa em que trabalhava era uma multinacional (do ramo aeronáutico...) com enormes possibilidades para uma carreira mundial. Mas ele estava convicto que necessitaria de um MBA para progredir em qualquer empresa que fosse. Eu já estava terminando meu MBA naquela época e conversamos bastante sobre este assunto. De fato alguns diplomas e títulos são importantes e ajudam um pouco. Mas temos que ter cuidado, pois isso certamente não é tudo. Quanta gente conhecemos que tem tudo isso (i.e. diplomas e títulos) e nem por isso está em uma posição que admiramos? Bem, a vida desse meu amigo deu uma reviravolta inesperada algum tempo depois. Por razões muito pessoais um dos diretores principais dessa empresa (a estrutura dessa empresa não tem VP, só Presidente e Diretor) teve que pedir demissão deixando a posição aberta. O meu amigo era muito próximo desse diretor que acabou por indicá-lo para assumir a sua posição! Função que está ocupando até hoje e na qual tornou-se o braço direito do atual presidente além de muito respeitado dentro da multinacional. Não fez o MBA e viaja bastante visitando tanto os clientes como outras bases da empresa pelo mundo. Hoje encontro com ele em grandes eventos da aviação (outro dia nos encontramos na Câmara de Comércio Britânica onde ouvimos o ex-presidente da British Airways nos contar sobre suas experiências profissionais...). O que percebo nesses encontros é um profissional realizado!

O que fica claro em qualquer um dos exemplos acima, e também nos casos de sucesso de muitos outros colegas engenheiros, é que não há caminho mais curto ou maneira mais fácil para “chegar lá”. É claro que um pouco de sorte sempre ajuda. Ou pelo menos ausência do azar... No primeiro exemplo meu amigo estava no lugar certo na hora certa quando, em meio ao turbilhão de modificações pelo qual a empresa passou, se necessitou definir um VP. No segundo exemplo também houve o fator sorte por ele ser próximo ao diretor demissionário. Mas não se iludam! Em nenhum dos dois casos, e eu os conheço muito bem, nossos amigos engenheiros teriam tido o sucesso profissional que tiveram se não tivessem sido íntegros e competentes durante toda a sua carreira. Foram essas integridade e competência que não só os levou até lá, mas principalmente os manteve lá depois. Assim, o caminho para chegar lá é duro e suado. E o mais importante: começa com uma boa base (sólida formação) e é pavimentado com o cimento da competência e da integridade.

Por: Fulvio Luiz Delicato Filho

Fonte: Jornal Interno da USP/ BLOG Estratégia e Mercado